Aceitação: o desafio de aceitar os dias de sol, mas sobretudo os dias de chuva!

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Se não aceitarmos, o que fazemos com o que nos é desconfortável ou doloroso?

Procurar o que nos dá prazer e satisfação, e afastarmo-nos do que nos é desagradável, e provoca desconforto, é, de todas as características humanas, uma das mais primitivas. Assim, falar de aceitação quando nos referimos ao que nos dá alegria, o que nos entusiasma, ou enche de energia, parece mais do que natural… Contudo, falar em aceitar o que é desagradável ou doloroso de alguma forma, pode parecer contra-natura, ou até algo masoquista…

A Aceitação, no contexto do Mindfulness, é genericamente definida como a abertura e rendição a todos os aspectos da nossa experiência, interna e externa, na sua plenitude. Isto significa estarmos abertos a aceitar experiências agradáveis, que nos trazem alegria, e satisfação, mas também abertos às experiências neutras, e às experiências desagradáveis e dolorosas.

Por mais contra-natura que possa parecer aceitar o que é desagradável, a questão é: se não aceitarmos, o que fazemos com o que nos é desconfortável ou doloroso?

Uma hipótese é: lutamos contra. Ou seja, tentamos livramo-nos a todo o custo do que está a acontecer, do desconforto, da dor. Nesse caso, estamos a acrescentar aquilo que é muitas vezes designado de “segunda flecha”. Ou seja, a primeira flecha é o que nos causou desconforto em primeiro lugar, como por exemplo a dor nas costas, a ansiedade, a solidão, o diagnóstico de uma doença, a notícia de ter ficado sem trabalho, etc. E qualquer um destes exemplos é de facto desagradável, difícil, doloroso. Mas, a segunda flecha é a que disparamos em nós mesmos quando depois da primeira flecha nos perguntamos “porque é que isto me está a acontecer?”, ou “porquê a mim?” ou ainda “só quero que isto desapareça”, “não aguento sentir isto”, “não quero isto”, ”só quero livrar-me disto”… Ou seja, quando nos prendemos e perdemos nestas ruminações, resistimos e criamos aversão ao que está a acontecer, negamos. E aqui sim, acrescentamos pela nossa mão, sofrimento, que não estava lá de início.

Outra hipótese é: evitamos, tentamos distrairmo-nos com outras coisas… Há quem saia para beber uns copos, outros procuram conforto na comida, ou em tantos outros refúgios. Isso pode até resultar, mas só temporariamente, porque enquanto evitamos o que nos provoca desconforto, não fizemos nada por nós, ou pelo nosso bem-estar, e o motivo do desconforto ou da dor, continua lá…

Nenhuma destas hipóteses parece muito eficaz em diminuir o desconforto. Na verdade, negar, resistir, e evitar o que está a acontecer consome imenso tempo e energia. Aceitar o que está a acontecer é apenas… ser realista.

Aceitar o que é desagradável ou até doloroso pode ser assustador, mas, aceitar não significa fundirmo-nos com essa dor, não significa que a nossa existência se resume a essa dor. Aceitar significa que podemos arranjar espaço para esse desconforto, junto de nós, sem deixarmos que ele tome conta de nós, e das nossas vidas, mas não fazendo também de conta que não existe.

Frequentemente a aceitação é confundida com passividade ou resignaçãoAceitar que a nossa vida tem experiências negativas não é igual a ficar passivo perante o que nos acontece, não significa que tenhamos escolhido essas experiências, ou que as aprovamos, e muito menos que escolhemos não fazer nada com elas. Bem pelo contrário, ter consciência e aceitar o que está (até porque já cá está), permite-nos ver as nossas opções e escolher como responder às situações, e isso implica muita coragem.

Se as experiências agradáveis são imprescindíveis ao nosso bem-estar e à nossa felicidade, são na verdade as experiências desagradáveis que nos permitem, ou até, obrigam a crescer, são elas que potenciam o nosso desenvolvimento. Aprender a viver com enxaqueca, com uma doença crónica, ou uma limitação física, ou responder a situações agudas como a perda de um trabalho, o afastamento de alguém querido são experiências que podem aumentar a nossa elasticidade, o nosso leque de competências, que nos fazem olhar para a nossa vida e ver como estamos a cuidar de nós, e o que podemos fazer para acomodar o que surgiu. Aceitar apenas as experiências positivas, excluindo as negativas é reduzir a amplitude da vida a metade.

Então o que podemos fazer quando nos confrontamos com o que é desagradável, doloroso, difícil? Uma das sugestões mais reconhecidas tem em inglês o acrónimo RAIN (de Recognize, Allow, Investigate, e Nurture), ou seja, perante o desconforto podemos:

  1. Identificar o que está, dando um nome, seja uma emoção, um pensamento, uma sensação física, etc.

  2. Permitir e dar espaço para o que estiver, porque afinal já cá está, já faz parte deste momento.

  3. Investigar com curiosidade, com bondade o que está, não julgando, ou racionalizando, mas observando e descrevendo como estamos a sentir isso no nosso corpo.

  4. Acolher, arranjar espaço e cuidar do que está.

Quando estamos abertos à experiência como ela for, conquistamos liberdade, pois ganhamos amplitude nas escolhas que podemos fazer, e, curiosamente, podemos descobrir que depois de estarmos abertos a todas as dimensões da nossa experiência, a dor ou o desconforto, já não teimam em perdurar….

Diana Duarte

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