Afinal o que acontece no nosso cérebro quando meditamos?

Bright natural dining room nook with vases plates and fruits on the table.

Se pararmos por um instante para pensarmos no nosso prato favorito, seja uma receita da nossa infância, ou aquela mousse a que não resistimos, ao fim de uns instantes podemos dar por nós a salivar, o que prepara o nosso corpo para receber alimentos e os processar.

Da mesma forma quando pensamos na imagem de uma grande lixeira podemos de imediato ter uma reação visceral de nojo ou aversão, sentindo um aperto no peito, náusea, tensão nos músculos, e um impulso para nos chegarmos para trás, numa tentativa de nos afastarmos do que nos provocou tal aversão.

Ou se fantasiarmos com um pôr do sol, numa praia deserta, ou no meio da riqueza da natureza de uma montanha, e imaginarmos a brisa ligeira nos nossos braços, e a temperatura tépida do sol no nosso rosto que descansa no conforto do ombro de alguém que amamos, podemos facilmente sentir os nossos músculos por todo o corpo suavemente a relaxar, e sentir sensações de calor no peito ou na zona do coração.

Este é um verdadeiro poder do ser humano: não precisamos ver alguém que amamos para sentirmos todo o afeto por essa pessoa. Isto é, ter algo presente no campo da consciência é suficiente para ser “real” para a nossa mente.

Por outro lado, quando a nossa mente muda, o nosso cérebro muda também. Por exemplo, num estudo feito a taxistas em Londres -que são sujeitos a uma aprendizagem exigente de memorização de mapas das ruas da cidade- revelou que o seu hipocampo (zona do cérebro estratégica para as memórias visuo-espaciais) se tinha desenvolvido e aumentado de tamanho de forma surpreendente comparada com a população normal.

Isto significa que se escolhermos bem o conteúdo que colocamos na nossa mente, podemos mudar também o nosso cérebro, ou por outras palavras a atividade mental cria novas estruturas neuronais.

E é, por isso, que importa salientar o impacto da meditação mindfulness.

Com recurso a imagens de Ressonância Magnética Funcional, um exponencial número de estudos, sobretudo nos últimos 20 anos têm mostrado os benefícios da prática regular da meditação mindfulness. Esta tecnologia tem permitido evidenciar efeitos durante a meditação como a diminuição do processamento de ondas beta (associadas ao processamento racional da informação), e aumento das ondas alfa (associadas aos estados de calma e relaxamento); bem como efeitos de longo prazo como o aumento da matéria cinzenta, principalmente no córtex superior, associado à regulação emocional e comportamental.

Os resultados evidenciam ainda o efeito da prática de mindfulness na neuroplasticidade (isto é, a capacidade do nosso cérebro se regenar e criar novas ligações neuronais) em diferentes estruturas, reflectindo-se na prática ao nível:

  • da memória, nomeadamente na em maior capacidade na memória de trabalho;

  • da atenção, com melhor desempenho sobretudo ao nível da atenção seletiva, atenção visual, e concentração;

  • da consciência metacognitiva, ou seja, na consciência que a pessoa tem de si e na capacidade de regular os seus processos cognitivos;

  • do afeto, tendo-se evidenciado que a meditação mindfulness está associada a menor reactividade emocional, e diminui os níveis de ansiedade e os padrões de pensamento negativo, diminuindo, por isso, também a probabilidade de depressão;

  • da redução significativa dos níveis de stress sentidos, e desenvolvimento de estados mentais mais positivos;

  • melhor gestão da dor crónica, e melhoria da qualidade de vida das pessoas dela padecem.

Por esse motivo, enquanto estamos a meditar estamos a alimentar a nossa mente e a reprogramar o nosso cérebro, para que ele não seja fonte de sofrimento, ou seja para contribuir para o nosso bem-estar e felicidade.

Diana Duarte

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Sugestão de Leitura: “Mindfulness, Atenção Plena”